Os bisões de Cuba me disseram Varadero é o seu pequeno paraíso. E que
numa época onde a felicidade é uma obrigação, praticamente um item a se cumprir
na agenda, o ambiente da península é propício para estrangeiros que precisam
cumprir essa pauta. Porém, Varadero pode ser visto como um paraíso alegre
apenas ao um primeiro olhar.
Varadero é a Suíça das praias. Em Varadero, há apenas contas
estrangeiras. Dificilmente você encontrará um cubano se divertindo nas areias claras
e águas transparentes, principalmente se andar península adentro.
A porção de terra é estreita, pouco mais de cem metros de largura. Em
compensação, você tem trinta quilômetros de extensão de praias. É um pequeno
paraíso. Verdadeiramente triste.
Em Varadero, à noite, só podem circular estrangeiros e prostitutas. Se
você não se encaixa nesses perfis, corre o risco de passar a noite no xilindró
e no dia seguinte perguntarem o que você estava fazendo lá, a andar
tranquilamente pela rua.
Se você for mulher e cubana, ainda pior. Nem pense em frequentar as
areias do lugar. E, se mesmo assim, você se arriscar e for vista falando com um
estrangeiro, pode ser presa. O tal crime
de “assédio ao turismo”. Funciona assim:
Uma cubana não pode falar com estrangeiros. Olhar para estrangeiros talvez
possa, mas sem que a polícia perceba. Se perceberem, ela pode dizer que é
caolha. E levar a reputação de caolha talvez seja pior que passar a noite atrás
das grades. Mas, voltando ao “assédio ao turismo”, as cubanas não podem falar
com estrangeiros por falar. Talvez por isso, muitas tenham medo até de dar
informações. O problema é que as cubanas adoram estrangeiros, eles têm dinheiro
(alguns não, mesmo assim elas pensam que têm) e passaportes. Se uma cubana é
vista falando com estrangeiro, recebe uma advertência em sua ficha. Se for
vista pela segunda vez, recebe uma outra advertência. Na terceira ou quarta
advertências, não sei direito se há um número, pode ser condenada a três ou
quatro anos de prisão. É a lei, cumpra-se. Ou aguenta-se as consequências.
Essa lei é vigente em toda a ilha. Em Varadero, é ainda pior.
Em Varadero, se uma cubana não estiver com a família, praticamente está
proibida de pisar nas areias da praia. Pode ser uma criminosa em potencial.
Mas as cubanas não podem namorar um estrangeiro?
Namorar entende-se por conversar, jantar junto, andar de mãos dadas.
Sim, pode.
Mas, para isso, devem ir a Matanzas, uma cidade próxima, capital da
província de mesmo nome. Em Matanzas há um local chamado Imigração. Ali, devem solicitar um documento. Uma espécie de
licença para amar. Em Cuba, ainda mais em Varadero, o coração precisa de
autorização do governo para se apaixonar. Nesse documento, a cubana diz que
está namorando Fulano de Tal. Isso permite que os dois sejam vistos juntos em
público. Se a polícia interceder, é só puxar o documento como quem puxa uma
arma e acertar no alvo, que é no prazer do policial em acabar com o bem-bom
entre ela e o estrangeiro e tentar a sorte mais tarde. Os bisões me falaram de
alguns casos em que policiais teriam sugerido para as moças hacerem el amor com eles para que não
tenham problemas com a justicia.
Justo ou não é assim que é. As leis existem para serem cumpridas. Ou
burladas com talento.
Isso tudo, dizem, é para proteger os estrangeiros. Na verdade, não sei
quem está protegendo e quem precisa de proteção. No caminho inverso do pequeno
paraíso que é Varadero, a felicidade vem na forma de um sorriso de mentira, de
peixes adestrados de mentira, de resorts onde o topless é tão sem graça quanto
uma música do Dinho Ouro Preto.
Voltando à lei: ela existe para ambos os sexos, mas homens cubanos podem
ser vistos com estrangeiras que não serão interpelados. Agora, se forem vistos
sozinhos, à noite, andando por Varadero, a polícia pode simplesmente perguntar
“o que está fazendo aqui, se você não mora aqui?”, ou então podem levá-lo em
cana e perguntar no dia seguinte.
Voltando ao documento: quando estão de posse do tal documento que libera
o namoro, as cubanas são responsáveis por qualquer coisa que venha a acontecer
com o estrangeiro cujo nome ali consta.
Neste paraíso fica fácil ser feliz. A dica é conseguir uma cubana que o
ame. Você terá, no mínimo, um guarda-costas. Viva o amor em Cuba.